domingo, 7 de agosto de 2011

Daddy’s Little Girl

Escrito por: Mario Barbosa em 06/07/2011

Papai não ficaria orgulhoso de mim se me visse agora, repito esse pensamento incansavelmente enquanto fecho meus olhos e sinto a mão de Antonio Flores percorrendo meu corpo. Na verdade René, sim ele diz que chamá-lo de pai o envelhece, não ligaria.

Enquanto sou levada para cama, os toques de Antonio se tornam furiosos, muito parecidos ao que ele fez em seu piano, no concerto onde nos conhecemos. Eu com dezesseis anos já era dona de mim, ele com quarenta e cinco se deixava envolver pela beleza juvenil. Não foi difícil seduzi-lo, sexo sempre é uma boa arma, usaria dela para arrancar a historia daquele olhar tão único que me lembravam os olhos de René.

Entre beijos e gemidos, ele me fala de seu primeiro amor, diz que me pareço com ela. Isso me excita ao mesmo tempo em que me destrói. Eu sou a sobra de uma lembrança, um objeto que ele usa para reviver o passado. Pensado bem, eu até que gosto disso.

Ele me penetra gentilmente e com olhos fechados sussurra diversos elogios, fala como eu sou bonita, do meu cheiro e de como eu ajudei a escrever a sonata atlântica. Claro que isso não foi para mim, era com ela que ele transava.

Os movimentos se intensificam, neste momento nossas mentes se conectam e eu vislumbro sua infância, a morte de seus avô, a obrigação em aprender piano. Na explosão de gozo, ele grita Estela, ou seria Estrela? A musa inspiradora de suas obras, o amor de sua vida.

Meu corpo suado pende e eu cansaço toma conta de tudo, os olhos lentamente vão se fechando e ao olhar para Antonio vejo que ele me admira e aquela pessoa antes única, não me parece mais tão bela.

Adormeço ao som de algo que ele canta, uma melodia que lembra uma velha marchinha de carnaval, tudo vai ficando mais longe, mas ainda ouço o “Boa Noite, Estrela”.

E bizarramente me sinto acolhida, me sinto querida, me sinto a filhinha do papai ou seria a amante de René?

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